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Filhos de Oceano

Detalhes da Exposição

Em Filhos do Oceano Ruth Bañón traça-nos uma rota do passado de volta ao presente. Trabalhando retratos e imagens de um tempo que não vivemos, coloca-nos o desafio de visualizar as pessoas e através delas as sociedades, os sentimentos e uma ideia sobre estilos de vida. Ao olharmos para as imagens, muitas são as perguntas que nos podem surgir: Quem são essas pessoas? Que nomes elas carregam? Qual é a história por detrás delas? Porque é que elas, sobretudo elas, despertaram o interesse da artista? Será por isso que Ruth decidiu que os Filhos de Oceano chegassem até nós?

 

Na verdade Ruth Bañón tem o destino ligado entre vários mundos, das realidades passadas e futuras, do real ao surreal, essa última que vai para além do irreal, pois ela recria e até subverte o estabelecido. Antropóloga, escritora, artista plástica, ilustradora, sempre atraída pelo colectivismo, pelas actividades que envolvem o outro. A sua arte é também resultado desse seu estilo de vida e dos caminhos que escolheu seguir profissionalmente. Correr atrás da vida antiga, como se as vidas presentes não bastassem para perspectivar o futuro.

 

Ir ao passado é a forma que a artista encontrou de combater os esquecimentos, mas sobretudo de conferir história e voz a homens e mulheres africanos levados do continente como escravos.

 

São exemplo disso, retratos que a artista foi achando em espaços improváveis. Africanos anónimos que moldaram as culturas dos lugares onde foram parar, na tentativa de se manterem ligados aos seus ancestrais, hábitos e costumes das suas tradições.

É essa a ideia que originou este projecto: “questionar, investigar e tornar visível através da arte a vida destas pessoas anónimas que deixaram para trás uma terra natal e que se tornaram seres despojados das suas raízes para sobreviverem à força (aqueles que o conseguiram fazer) a essa traumática viagem de ida, é a forma em que me imergi para tornar visível e (re)criar a sua ancestralidade,” justifica Ruth Beñón.

 

Hoje, com esta mostra, reconectamo-nos aos nossos procurando nos seus traços familiares, reinventar-lhes vidas possíveis. É como se dos escombros, dos prováveis esquecimentos, as pessoas regressassem com o mesmo à vontade que sentiram ao posar para as fotografias.

 

Essas pessoas que são do tempo em que a captura de um retrato equiparava-se a um ritual, com planificação, com orçamentação e, de certa forma, representava um status quo, a não ser que, um acontecimento, colocasse as pessoas simples no centro das atenções, como estar no palco. Tirar uma foto era um gesto para o qual as pessoas se entregavam para pausar o tempo, fixar memórias.

 

Nos quadros as imagens revelam-nos autênticas personagens, se pensarmos sob o ponto de vista de história (estórias, talvez), ou ainda no campo da moda e estilos de vida, diríamos modelos.

 

As colagens das fotografias nas ilustrações são ambientadas por paisagens naturais que nos dizem um pouco da atmosfera do lugar e das suas geografias e com isso, o estado da alma das pessoas, esse que já sofre a influência da paisagem em que estão envolvidas.

 

Chamará atenção a postura diferente entre homens e mulheres. Todos belíssimos à sua maneira, os homens mais altivos, com a pose de determinação e um certo poder; as mulheres, com os semblantes ténues, as roupas que lhes cobria praticamente o corpo todo, mas sempre com elegância e estilo.

 

Tudo isso faz destes Filhos do Oceano gentes misteriosas, norteadas de desejos e ambições que se definem pelo nível das águas e o tamanho da imaginação sobre o horizonte de possibilidades. A natureza acolhe-os na sua plenitude enquanto nós os contemplamos ainda cheios de perguntas, mas com uma certa sensação de saber quem são e que notícias nos trazem ou, talvez ainda, se a arte pode nos ensinar a redefinir o tempo e a recriar memórias.

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