Chaná de Sá brinda-nos com Os Viajantes da Baleia Cor-de-Rosa. É como se nos chamasse também para sermos parte de todo um percurso de criação que começa pela paisagem, os seres, até à natureza que habita o mito.
As obras apresentadas nesta exposição fazem-se pelo forte impacto visual, como se nos concentrasse à volta do narrador para compreender a metamorfose, a transfiguração dos seres nas cores. É fácil compreender o resultado deste trabalho artístico de Chaná de Sá olhando para as paisagens, os caminhos, os outros e o que obriga o seu pensamento. Tem a vida feita em Inhambane, a terra onde o céu beija o mar, o índico exibe toda a sua beleza e tranquilidade, mas também mostra a sua vulnerabilidade diante da astúcia humana. Daí o artista ter emigrado da experimentação das cores, do meramente pintar, para representar a convivência feita de interesses, mas que nem sempre é recíproca, entre o Homem e o oceano.
O Homem, como em tudo que toca, procura influenciar a vida natural das coisas. Hoje fala-se em ameaça dos recursos marinhos, sendo uma das razões, o lixo, sobretudo plástico que vai terminar nos oceanos e, se confundindo com outros habitantes, os peixes e outras espécies alimentam-se dele que, levando a questão para mais longe, os dejetos podem ainda vir a terminar no corpo humano. É um ciclo vicioso e maléfico, como são todos os vícios (bem aventurados os que acreditam nas excepções).
Em Os viajantes da Baleia Cor-de-Rosa, Chaná de Sá apresenta-nos trabalhos com uma mistura de técnicas, predominantemente a aerosolgrafia sobre madeira e em tela. Um caminho diferenciado que já se torna uma marca individual, sempre à procura da perfeição na representação dos seres das suas crenças e imaginações, tirando as artes de rua – o graffiti – para o interior das nossas vidas.
Ao apresentar-nos figuras que se misturam entre animais e humanas e até as flores procurará o artista representar uma ideia de coexistência na natureza, mas também uma inspiração nos seres mitológicos da cultura grega, sendo as ninfas, as mulheres que se apresentam lindas e alegres protetoras da floresta, as sereias meio corpo mulheres, meio corpo peixes.
As ninfas de Chaná, não são só as figuras femininas de aparências surreais, marcam-se sobretudo pelo quotidiano moçambicano, como a mulher que carrega o bebé no colo e tem influência nas dinâmicas sociais.
Este conjunto mostra o Chaná de Sá auténtico, irreverente, e com uma poética de olhar, de cores, de paisagens, o que desafia a compreensão de qualquer um, para além do que se mostra à superfície.